Sunday, May 04, 2014

Rima

Toda uma vida à procura de sentido, à procura de razão.
De uma rima.
Luta-se, sofre-se e morre-se, vezes sem conta, por apenas mais um pedaço.
De sentido.
Desiste-se, amaldiçoa-se, premeia-se, festeja-se e desiste-se mais uma vez, a eterna falta.
De razão.

Constantes mortes e ressurreições, percebe-se finalmente,
de que a rima está no interior
À espera para ser descoberta, para ser escrita.

Mais quedas, retrocessos, mas a visão do poeta está posta no horizonte
Tão ao alcance do desejado sentido
A aguardar a queda dos muros que o impede de ser vivido.

É engraçado perceber, até mesmo irónico
Que quanto mais se quer mais longe a razão parece estar
De toda a felicidade prometida

E desiste-se mais uma vez
Mas algo muda. Algo está diferente.
O interior vem à superfície, sem mais muros e sem mais ânsias.

Surge em forma de surpresa, o tão desejado Graal
Do exterior o gatilho para encontrar o fogo interior
A prova de que para o poeta
uma rima só faz sentido quando existem dois versos lado a lado.

Talvez Alguém, Talvez Ninguém


Tento limpar o que foi sujo,
E há sempre uma mancha que fica.
Nódoa.
Crueldade.
Mágoa.
Gangrena.

Lavo o corpo
Mas o sujo agarra-se à alma

Disseste que era tudo
Disseste que era alegria
Disseste que era paz

Mas não passei de um simples alguém
Não muito importante
Apenas… presente.

Fiquei ausente do mundo
para ficar presente em ti
Mas tu não querias alguém,
e muito menos a mim

Não passo de alguém insignificante
Pouco importante
Apenas alguém para sujar
menosprezar
Alguém a apagar
Até nada restar

Talvez estivesse errado.
Errado em todas as decisões
Em todas as emoções
Agora não há nada.
Nada que possa fazer

A sujidade não sai
Não importa o que use
A sujidade não sai
Não importa o quanto esfregue
A sujidade não sai
Não importa quanta pele rasgue.

Não importa.
Continuo a ser ninguém
Muito menos que alguém
Um mero…
zero.

Nada…

E os sonhos
E os risos
E os Planos
E o Futuro
E as crianças
E os pais
E a família
E os amigos
E os irmãos
E os mestres
E as certezas

E… Nada.

Zero.

Menos que ninguém
Um patético alguém

Trago o teu nome escrito,
por todo o meu corpo
Quem me dera estar morto
Para não sentir o teu cheiro em mim
Quero apagar tudo,
Apagar tudo até ao fim.

Não consigo limpar
Não consigo apagar
O teu cheiro do meu corpo
A tua face da minha alma

Quero ser aquilo que vês em mim.
Quero ser ninguém!
Porque não suporto
ser meramente alguém
pouco importante
sempre presente
insignificante
De mim, Ausente

Quero extinguir a memória
Quero limpar a casa
Quero apagar a mente
Quero lavar a alma

Mas para onde quer que me volte
É a tua cara que encontro
E não há forças para ser forte
Deixaste apenas o monstro

O monstro que te odeia
por seres alguém dentro de mim.
O monstro que te odeia
Por seres o ódio dentro de mim.

E Talvez esteja errado sobre ti.
E em toda a Raiva, e em toda a dor.
Não há nada que possa fazer
Não agora, não neste momento.

Continuo a pensar
Que sou somente alguém
Que és incapaz de amar.

Desisto de limpar o quer que seja,
Desisto de lutar por ti.
Mas não consigo sentir a dor
A desistir de mim.

Agarro-me à sujidade
Que me faz sentir algo
Sentir aquilo que não consegues
sequer começar a sentir.

E tem então a certeza que sou alguém
que pensas estar errado em ti.
Pois eu tenho a certeza que sou ninguém
E que és tu que estás errada em mim.