Tuesday, October 08, 2013

Eu Sou (Revisitado)

A cada dia que passa a minha mente se expande mais. Eu vejo, eu sinto, eu ouço, eu sou. Mestre do vento, controlo tudo e não controlo nada. A vida,a morte e os intermédios. Não durmo à noite para sonhar, para alimentar a minha cabeça. Sonho de dia para continuar a dormir, para descansar o corpo no meio de actividades entediantes cumpridas automaticamente. Dragões, dimensões paralelas, espelhos mágicos, neblinas, portais, sonhos transformados em pessoas. Eu sou o que vê tudo, eu sou a loucura, a insanidade contida. A corrosão do ser, o que desafia o estabelecimento das normas, o que supostamente devia ser e não é. O que caminhou do que foi para o que surpreendentemente é. O ferro no meu organismo desaparece rapidamente e não há travão. Depois de soltar as amarras e de levantar a âncora, onde se prende um barco à deriva? Como? E será que se quer? Ninguém está a deriva quando não há destino num oceano cheio de vida. Quando não há rota definida mas a certeza de que há um destino. Eu sou o barco, que continua sem querer saber para aonde vai, mas que vai. Eu sou o capitão que sabe o segredo. Que tem essa maldição. Não preciso de bússolas, de radar, de sonar. Apenas das estrelas, dos planetas, cosmos, de tudo aquilo que já morreu há milhões de anos mas que continua a iluminar a noite desta terra. Eu sou o porto seguro daqueles que precisam, mas continuo a ser o meu próprio cemitério. Onde tudo morre mas nada é enterrado e esquecido. Eu sou a morte eternamente viva em todas as vidas que continuamente morro. Eu sou a vida por trás da minha morte. De todas elas. Eu sou aquele que continuou, aquele que continua, aquele que vai continuar. Depois da vida, depois da morte. Eu sou o que chega ao infinito. A guerra interior que vai lutar até ao próximo mundo, onde quer que ele seja. Eu sou o guerreiro que se cansou de lutar, que se sente como um peão na mão de Reis e Rainhas e Bispos. Eu sou a porta para o futuro, a representação do hoje, a ténue lembrança de ontem, onde o passado serve para mostrar quão longe fica a praia de onde se partiu mas quão perto fica o destino, quão perto sempre esteve. Eu sou aquele que ouve mas que jamais fala. O silêncio é o meu lacaio e eu o seu servo. Eu sou aquele quem encontra sem procurar, porque tudo vem a mim ter. Eu sou a memória colectiva, sou o universo, sou o nada, o paradigma da existência, da insignificância. A fagulha no meio da escuridão, a escuridão no meio da luz. Eu sou ninguém porque essa é a única maneira de ser alguém. Eu sou todos porque essa é a única maneira de ser um. Eu sou o tudo que se torna nada na vasta imensidão do Universo. Eu sou o nada que se torna tudo quando não há mais nada. Eu sou EU.


Eu sou UM.