Monday, April 28, 2008

Elevação

Deixei a minha alma falar. Ela estava ansiosa por o fazer e falou horas e horas a fio. Não sei como é que aguentou tanto tempo a falar sem se cansar. Incansável. Senti uma certa inveja por tal resistência e por tal paixão. Paixão sincera porque ela não sabe como mentir. Depois de tanto tempo, finalmente deixei-a falar, que falasse daquilo que sentia, das dores e das alegrias e ela não parou enquanto não despejou tudo como se estivesse a largar um largo fardo que carregava há muito tempo. Demasiado tempo para qualquer um. Queixava-se de vez em quando como que a querer lembrar "ainda estou aqui" embora ninguém a ouvisse.
Ainda estou aqui...
Sempre invisível, nunca ninguém se lembra dela, mas ela lembra-se sempre de nós. Impossível seria de outra forma. Quando deixei a minha alma falar, foi bonito de se ver, a vida que saltou dela, impossível de conter, impossível de igualar. Algo que deveria ser presenciado todos dias da vida.
Acabei por me sentir triste.
Quando a deixei falar, já não restava ninguém para a ouvir. Nem mesmo eu.