Saturday, August 19, 2006

Sal

É estranho.

Não olhes para trás. Pedras de sal. Estátuas. Não olhes.

E para o lado? Posso olhar? Como posso perder-me numa sala redonda? Castelos no ar, pés no chão. Impossível não é? Embaraços, alegria, enganos e... tantas outras coisas. Milhares. Milhões. Tu sabes do que estou a falar? Tudo aquilo que nos define, tudo aquilo que nos marca, tudo o que nos destroi. E voltamos sempre ao mesmo sítio. Cidades queimadas, corpos pendurados e aquele cheiro, aquele horrível cheiro. O cheiro da nostalgia. Mas é diferente é sempre diferente. Todos os dias nasço para viver todas as coisas que vivi no dia anterior. Mas diferente. Uma nova cidade, novos pecados, novos cheiros, mas sempre o mesmo. Poderá a repetição ser diferente. Eu sei, eu sei, questões que não são importantes. Mas é jogo divertido quando não se tem nada que se fazer. Mas depois de dizer tanta coisa e não dizer nada só há algo que me fica na cabeça: Porque é que todos se transformam em sal menos eu? Queria ser um deserto de sal. Um mar. Porque não?

Porque a àgua salgada não congela.






Saturday, August 05, 2006

Rotina (15-04-2006) FF

Este texto ou necessidade de o escrever nasceu de um projecto levado a cabo por uma amiga minha. Acabei por o fazer por necessidade de libertação. Embora nunca tivesse sido usado na altura, acabei por lhe pedir autorização por o por aqui. Não reflecte totalmente a minha rotina actual, mas é um pedaço de mim que continua a fazer algum sentido, apesar de algumas nuances que mudaram. Os pormenores mudam, mas a essência é sempre a mesma.

"A minha rotina diária consiste em me levantar às 7:29 (exactamente) para tentar sair de casa por volta das 8:00. Embora viva perto do local de trabalho e apenas entre às 8:30 gosto de chegar cedo porque ainda tenho que trocar de roupa para vestir a "farda". Por volta das 10:30 vou tomar o pequeno almoço com os meus colegas de trabalho, aonde falamos, normalmente sobre futebol. Depois volto para o trabalho até às 12:45 aonde vou trocar de roupa outra vez para ir almoçar. Finalizado o almoço sento-me num muro em frente o refeitório mais um amigo meu e fico a dizer-lhe (todos e todos os dias) que determinada Dra é a mulher da minha vida e ainda não sabe. Ele vai-se embora por volta das 13:25 e eu ora vou com ele ora fico com outros colegas que entretanto chegam até. no máximo, às 13:45.
Normalmente a tarde custa sempre mais a passar, em frente ao pc, começa a dar-me o sono por volta das 15 e começo sempre a pensar em como quero estar longe dali para fazer aquilo que realmente gosto. Quando chegam as 17:20 começo a desligar o equipamento para ir mudar de roupa e me ir embora. É uma sensação de alivio e satisfação por estar finalmente fora dali. Chego a casa por volta das 17:45 e vou buscar o meu sobrinho ao infantário, meto-lhe os desenhos animados que ele gosta e fecho-me no meu quarto. Normalmente é aqui que começa o que considero o meu dia de trabalho, vejo as mensagens que tenho, alguns trabalhos. Escrevo algumas coisas, vejo o mail da editora, vejo material para criticar num dos blogs. Metade das ideias que tenho durante o dia e que penso "se estivesse em casa estava a fazer isto" ou "vou fazer isto quando chegar a casa" acabam por não se concretizar pelo cansaço e por pura preguiça. Janto por volta das 20:00 e depois disso volto para o quarto, falo com algumas pessoas no Msn enquanto trabalho em algum dos meus projectos, seja na musica como na escrita. Acabo por me deitar por volta das 00:30 para começar tudo de novo no dia seguinte. Confesso que aprecio rotinas, tenho rotinas em tudo o que faço e a mudança dessas rotinas assustam-me, devido a.... mudanças que não gostei. A rotina traz-me alguma segurança. Mas esta rotina não a escolhi ou não era a que queria porque não tenho o poder para a quebrar. Estou preso a responsabilidades e a um emprego que não me diz muito. Tenho consciencia que o que faço actualmente não é mau, devido o ambiente de trabalho e a liberdade de ouvir música (tenho que ouvir música sempre e quando não a tive ia dando em maluco). Mas não chega. Queria poder fazer aquilo que gosto, aquilo que me dá prazer fazer mas que não me traz rendimentos. É por isso que gostava de ser rico. Não para ter coisas, ou para acumular bens. Mas poder fazer o que quizesse, de poder criar música, poder escrever sem estar preocupado se tenho dinheiro para comer ou não.
Durante o fim de semana tenho uma rotina propria. Acordo sensivelmente sempre à mesma hora, por volta das 9:00 porque não consigo dormir mais do que isso, independentemente da hora que me deite e fecho-me no meu quarto a ver filmes e de volta do pc/musica/escrita. Acabo por ter sempre a eterna sensação no domingo (o maldito dia) de que desperdicei o fim de semana, de que estou a desperdiçar a minha vida. Tenho uma necessidade extrema de partilhar as coisas que faço e aquilo que sou com alguém e a verdade é que não há um alguém que aceite a totalidade desta partilha. E sinto falta disso. Escrevo e faço músicas porque é que faz sentir bem comigo mesmo, mas por vezes sinto que é um peso e faz-me sentir diferente das outras pessoas de uma maneira negativa. E por isso digo frequentemente que gostava de ser normal (o que é que quer que isso seja) de conseguir de casa e de conseguir estar com as outras pessoas. No fundo tudo volta à mesma questão de sempre...Acho que continuo à espera de poder partilhar o que sou e o que faço e por isso continuo com esta rotina, não por ser seguro ou por ser essencial para mim. Simplesmente porque é tudo o que me resta."