Big Bang
No início não há nada. E o nada é o tudo que há. Não é perfeito, não é imperfeito.
Simplesmente é e não é, simultaneamente.
De uma lenta explosão silenciosa de luz surge o pensamento. E com o pensamento, vem outro pensamento. E outro, e outro, e outro. E todos os pensamentos formam O Pensamento, que vai recebendo cada vez mais pensamentos, ampliando-se e comprimindo-se, inspirando e expirando porque O Pensamento não é estático, O Pensamento tem vontade própria. E do ser surge o desafio.
Anular O Pensamento. Controlar O Pensamento.
No entanto, O Pensamento tem um aliado forte e insuspeito e esse aliado é o próprio ser. Alimenta-o com a ilusão da realidade, ilusão da vida. Essa ilusão faz com que mais pensamentos surjam à superfície do ser, pensamentos sobre os segredos do universo e quantos mais pensamentos surgem, mais se multiplicam, afogando o ser em teorias, em objectivos, em rituais. O ser tenta multiplicar-se como O Pensamento, mas o ser não é O Pensamento. O ser quer sabedoria, quer elevação, mas quanto mais luta, mais se afunda nos seus desejos de libertação.
Paz.
Iluminação.
Consegue tocar-lhes apenas por ínfimos segundos. Por breves momentos, o ser realmente consegue até que O Pensamento volta, porque ele nunca se ausenta. Apenas mais uma das suas ilusões. Mais teorias, mais rituais, mais ensinamentos, mais orações, mais mantras. O Pensamento obriga o ser a percorrer uma estrada, afirmando que essa estrado o irá levar à Paz, esse caminho o irá levar à Iluminação. Com uma mochila às costas cheia de expectativas empoladas pelO Pensamento, o ser parte na viagem, não sabendo que o seu destino é exactamente o sítio onde está. Que cada passo que dá em qualquer direcção que seja, é um passo na direcção errada. Até que cansado de tudo o ser pára. Cede ao cansaço de todos os rituais, de todas as orações, de todas as meditações, cede ao cansaço dO Pensamento. E num acto de repúdio, ele afasta tudo o que é, porque o que ele pensa que é, é o que O Pensamento lhe diz. Afasta tudo o que conhece, porque ele apenas conhece o que O Pensamento lhe diz conhecer. Afasta toda a noção de realidade, porque a realidade que conhece, é aquela que O Pensamento lhe transmite.
O ser afasta-se do pensamento, não o anulando ou tentando controlar, apenas libertando-o. Agora o pensamento não está mais comprimido, o pensamento já não está junto a outro pensamento que se liberta do outro pensamento, até que desaparece.
E tudo o que fica é o nada. O Nada que é tudo.