Um vampiro perguntou-me se podia beber do meu sangue. Educadamente disse que não, perguntando-me a mim mesmo se será este ser um parasita com gosto de o ser ou se apenas estava preso à sua condição como todos os restantes. Lutar para sobreviver, todos o fazem é certo, mas muitos retiram prazer dessa luta, muitos têm satisfação na sua condição, tanto os que sugam como os que são sugados. Pela sua figura, calculei que fosse desespero, vi no seu olhar a fome de viver. Não conseguia esconder típicos tiques nervosos e estava pálido como se estivesse à beira da morte. Como será que ele se deixou ficar assim? Terá ido ao encontro dele ou foi o inverso? Tudo questões sem importância, eu sei, mas são as que me surgem sempre sem pedir licença. Enquanto ele fazia um choradinho acerca da sua desgraça pessoal eu simplesmente não conseguia tomar atenção ao que dizia. Apenas me restava na mente a questão acerca dessa raça sanguessuga que vive sobre a desgraça alheia. E pus-me em causa.
Afinal qual será o pior?
A sanguessuga que vive e sobrevive devido ao sangue de outros ou aquela que se alimenta sobre o seu próprio sangue?
Poderá dizer-se, e bem, de que assim não há vítimas... inocentes. Mas não será igualmente degradante? Alimentar-se da miséria própria ou dos outros, não deixa de ser alimentar-se de miséria. Será mais digno? Mais... altruísta?
Apenas mostrei as marcas, as mesmas marcas que ele próprio tinha, que me identificavam também como sanguessuga. Num lamento, voltou as costas sem dizer mais nada, como se nunca tivesse falado comigo sequer. Foi procurar alguém que pudesse aplacar a sua fome. Uma procura que nunca precisei de fazer.