Saturday, May 26, 2007

The Gift

Acontecem coisas estranhas das formas mais banais que o exterior pode achar. Certos momentos perduram no tempo, certa magia do passado é recuperada quando nem sabiamos que ela existia. O velho grupo juntou-se outra vez e provavelmente pela última vez. E a dádiva assistida, o álcool, o fumo, os risos... levo-os comigo porque eles não voltam mais. Por diversas vezes disse e pensei... "A era acabou". Esta pelo menos... E por muito que me tenha recusado a isso, hoje senti. A era acabou.

Não mais.

Não.

O velho grupo viveu, sorriu, respirou e riu... maior que a vida. Como sempre foi. Maior que a vida.
A melancolia é inevitável mas... não há tristeza que chegue quando penso no que foi que todos vivemos juntos. E por uns escassos momentos, todos esquecemos os nossos problemas. Eu, pessoalmente saí de casa e deixei os meus demónios e alices fechados no armário, onde sei que os vou encontrar de manhãzinha, á minha espera com um sorriso.

A era chegou ao fim... foi tão rápido que passou esta eternidade... que a próxima já cá está e eu nem dei conta.

Monday, May 21, 2007

A Procura

Todos procuram por ti... mesmo sem saberem. Onde estás tu? Que misterioso sorriso é esse que nunca ninguém o viu? Dizem que estás aqui, dizem que estás ali mas são poucos os que realmente te encontram e ainda menos os que te conhecem. Rapariga reservada, mulher fatal, a contradição em conceito e poder em pessoa. Poder de provocar as mais acesas das paixões e os ódios mais exacerbados. Dizem que te ris na nossa cara, nós, comuns mortais que procuramos por ti. Que te divertes por essa procura incessante. Talvez por apareceres sem avisar e saíres da mesma maneira. Ninguém te controla e ninguém pode simular a tua presença, porque és única e a diferença é notada. Talvez aí resida o teu poder. Será que te apercebes dele e das pessoas que arrastas com ele?

Será que existes...?

Thursday, May 10, 2007

Vampiro

Um vampiro perguntou-me se podia beber do meu sangue. Educadamente disse que não, perguntando-me a mim mesmo se será este ser um parasita com gosto de o ser ou se apenas estava preso à sua condição como todos os restantes. Lutar para sobreviver, todos o fazem é certo, mas muitos retiram prazer dessa luta, muitos têm satisfação na sua condição, tanto os que sugam como os que são sugados. Pela sua figura, calculei que fosse desespero, vi no seu olhar a fome de viver. Não conseguia esconder típicos tiques nervosos e estava pálido como se estivesse à beira da morte. Como será que ele se deixou ficar assim? Terá ido ao encontro dele ou foi o inverso? Tudo questões sem importância, eu sei, mas são as que me surgem sempre sem pedir licença. Enquanto ele fazia um choradinho acerca da sua desgraça pessoal eu simplesmente não conseguia tomar atenção ao que dizia. Apenas me restava na mente a questão acerca dessa raça sanguessuga que vive sobre a desgraça alheia. E pus-me em causa.

Afinal qual será o pior?

A sanguessuga que vive e sobrevive devido ao sangue de outros ou aquela que se alimenta sobre o seu próprio sangue?

Poderá dizer-se, e bem, de que assim não há vítimas... inocentes. Mas não será igualmente degradante? Alimentar-se da miséria própria ou dos outros, não deixa de ser alimentar-se de miséria. Será mais digno? Mais... altruísta?

Apenas mostrei as marcas, as mesmas marcas que ele próprio tinha, que me identificavam também como sanguessuga. Num lamento, voltou as costas sem dizer mais nada, como se nunca tivesse falado comigo sequer. Foi procurar alguém que pudesse aplacar a sua fome. Uma procura que nunca precisei de fazer.