Sunday, October 21, 2007

Silêncio

Silêncio.
Apenas um leve murmúrio maquinal no ar mas que se funde com o próprio silêncio.
Silêncio tem vários significados e tomo-os todos como negativos. Música, música, música Algo que faça sentido ao silêncio absurdo e ao ruído ensurdecedor daquilo que me rodeia. Alimento para os meus pensamentos, combustível para a minha imaginação. Combustível para voar.

Vamos voar?

Vamos enquanto podemos, vamos enquanto queremos. Não fiques cá, não te entregues ao silêncio. Não fiques cá.
Vem comigo...por favor. Não me deixes só...
Com o silêncio.

A música acaba e eu caio. Com o silêncio.
Há quem precise de momentos de silêncio, momentos de repouso de reflexão. Eu não quero repousar, não quero reflectir. Eu não quero o silêncio. Não há conformidade de aceitar o espelho que me mostra a realidade cruel da vida sem música. Até o barulho sem sentido e inumano é melhor que o silêncio. Dêem-me máquinas a uivar, motores a gritar. Qualquer ruído. Que dele faço música. Interminável música. Notas que se sucedem aparentemente de maneira caótica. Mas tudo faz sentido quando não há silêncio. Quando não há dor, quando não há silêncio.

Não.

Mas o cansaço vence e as energias esgotam-se e o silêncio sempre há espreita, oportuno, surge e instala-se. Quando não queremos mas já não temos forças para o impedir. Talvez estejamos cansados demais para sentir, talvez estejamos cegos demais para ouvir. A bola a bater nas redes de ferro. As crianças a correr. Os carros a passar. Talvez pensamos que o silêncio seja inimigo incansável e que irá sempre acabar por nos vencer, algo que não nos podemos fugir. Não eternamente. E dos pequenos barulhos que ouvimos o silêncio é quebrado e descrentes dizemos a nós próprios:

São barulhos sem sentido, não passam disso.

E uma porta bate. Outro carro passa, as árvores soltam as suas folhas. Um pássaro canta. Tudo se torna confuso, como pode ser o não silêncio tão caótico, como pode ser a ausência de dor tão vazia. E mais barulhos chegam aos ouvidos, ritmadamente. Distinguem-se uma nota. Duas. E uma melodia desafinada começa a repetir-se de uma estranha forma. A dor do silêncio vai ficando adormecida. Esquecida. Como se nunca tivesse existido.

E de repente...

Tudo faz sentido.

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