Wednesday, August 01, 2007

Feridas

Durante o seu tempo de vida, o ser humano carrega consigo as cicatrizes das suas feridas. Quando estas são recentes e o sangue fresco, a dor é, obviamente, inevitável. Mas conforme o tempo e os seus agentes erosivos exercem a sua função curativa, fica-se apenas com uma leve lembrança, física, dessa ferida. Um singela cicatriz.
Os menos ajuízados optam por manter a ferida em aberto, por alimentá-la, tornando-se assim uma obcessão. Acaba por ser algo motivado talvez pelo orgulho.

"Hei-de te ver aos meus pés"

Há também opte por esquecer essas feridas. Não fazer de conta que não existem, apenas esquecê-las. Igualmente incompreensível, para a maioria talvez. A partir do momento em que se lembra, por qualquer infortúnio do destino, a primeira reacção é sempre a de abrir as feridas, talvez novamente motivadas pelo orgulho.

Raiva, orgulho, dor e obcessão.

As feridas vão estar sempre lá, marcas queimadas na pele, tatuagens que por vezes se desejavam não terem sido tatuadas. Pode-se tentar esquecer, pode-se fingir que se esqueceu, enganando todos inclusive a si próprio. Se não se as aceitar, se não as encarar, o dia em que o espelho mostrar as cicatrizes que se tentam ignorar será o dia em que as feridas vão voltar a sangrar. Internamente.

No final é melhor perdoar e não esquecer do que não perdoar e fingir que se esquece.

1 Comments:

Blogger Clepsidras said...

Lembra-me algo. Algo que eu escrevi faz muito tempo. E faz sentido.

As cicatrizes são os mapas das estradas onde já passamos. E quanto mais calcorreamos uma estrada, mais vincada ela fica. E nada nos trás de novo.

4:06 AM  

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