Saturday, April 21, 2007

A Máscara Branca

A máscara branca estava partida nas suas mãos. Era mais que um refúgio, era a sua vida. A face que ele gostava de ver no espelho, a que provocava as reacções desejadas nas poucas pessoas com que se cruzava. Desprovida de emoções mas capaz de demonstrar trizteza e alegria. Através dela, viam nele tudo aquilo que queriam ver. Temor, fascínio, repulsa, incompreensão. E o homem gostava disso. Essa sensação de poder, de impunidade fazia com que se sentisse de alguma forma superior. Era aquele que nunca falava porque a máscara falava por si e todos os restantes faziam as perguntas e respostas que ele precisava. Ele apenas ouvia.

Mas tudo isso acabou, a máscara branca está partida nas suas mãos. E o homem não se recorda como a máscara se partiu. Todos os pormenores da sua vida estão a fugir a cada segundo que passa do seu alcance. Conforme as memórias se afastam, ele é deixado a sós com a máscara branca partida nas suas mãos. É a única coisa que lhe resta.

A sua mente fica limpa de recordações, de pensamentos. O vazio tem uma cor. Branco. Sem tristeza, sem alegria. E quando olha para os destroços da máscara branca, julga que está a olhar para um espelho e não suporta ver a sua figura.

E então a máscara branca faz, mais uma vez, parte de si.

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