Sunday, July 17, 2005

O Querer

Ontem sinto que perdi aquilo que de mais querido tinha, mas tenho a esperança de ter ganho aquilo que é a base de cada indivíduo. Ao querer tomar este caminho foi na esperança de que me pudesse conquistar a mim próprio, perdoar-me a mim próprio pelos "crimes" por mim e contra mim cometidos. Nestes dois meses cresci imenso, aprendi imenso mas nada disso que passei, senti e aprendi serve de alguma coisa se não tivesse a base onde a colocar. Tudo é bastante simples, mas difícil é o caminho que nos leva até lá. Confesso que sou preguiçoso, sempre foi mais fácil culpar-me a mim do que ver o que realmente se passou, admitir os erros e aprender com eles. Só admitimos os nossos erros e os erros dos outros se tivermos a capacidade de perdoar... É altura de agir em conformidade daquilo que aprendi, é altura de domar esta doença, é altura de voar. Não sou ingénuo ao ponto de dizer que automaticamente estou curado, que por milagre da psicanálise irei começar a ser o mais pacífico ser ao cimo da terra que consegue a paz com os outros através da sua paz interior. Não é algo que surja por acaso, é algo que se procura e batalha-se até se conseguir e nunca se desiste nunca. Tenho sorte de ter os melhores amigos á minha volta, de estar rodeado dos melhores seres humanos que podem existir ao cimo da terra e que são eles que fazem renascer uma fé perdida na humanidade, são eles a minha humanidade, são eles essa definição perfeita do que a humanidade deve ser. Não são perfeitos, não são isentos de falhas, mas simplesmente pessoas... pessoas que erram, pessoas como eu. Pessoas que me mostram que há motivos para me amar, pessoas que esfregam-me isso na cara e pessoas que há muito me tentam abrir os olhos para isso. Antes não o queria ver, mas agora quero. Sem querer entrar numa onda muito lamechas (embora já seja tarde para isso) sinto que me foram dadas todas as oportunidades e fico feliz que a última tenha sido dada por alguém com quem tenho uma ligação imortal, mas principalmente que tenha sido dada por mim. Por toda a minha vida procurei nos outros o amor que não tinha por mim, mas agora que já sei onde o encontrar, talvez seja mais simples...é mais simples, é tudo tão simples.
Hoje de manhã, após de andar a remoer na cama a tentar dormir levantei-me e fui, mais uma vez movido pelos meus medos de que o futuro que sinto que vai acontecer não aconteça, confirmar aquilo que receava. Mas essa consulta e apesar de ter ficado abalado levou-me a algo com que me identifico muito, com uma mensagem de alguém que já faleceu e que igualmente aos vinte anos teve que lutar pelo seu amor-próprio, que como ele diz nasceu pessimista e tornou-se optimista. Esse facto fez-me ver que a escuridão não existe porque por cada escuridão que nos atravessa os olhos, aparece uma luz que ofusca essas trevas. E foi o que aconteceu comigo, fiquei simplesmente esmagado por tal força, por tal coragem de amar e de ter alegria, de transmitir isso aos outros, quando supostamente a vida não nos dá razões para isso.
Quem está por dentro da filosofia (não lhe gosto de lhe chamar religião) espiríta ou quem de alguma maneira teve contacto com entidades não presentes fisicamente neste mundo sabe que o comum a todas elas é a procura da luz. Não a encontram porque estão com os olhos fechados, e procuram e agarram-se a pessoas que tenham uma luz forte sem se aperceberem que a verdadeira luz vem de dentro deles e só com essa se podem libertar. Que só têm que abrir os olhos...por isso, abram os olhos.
Isto trouxe-me esperança, vai ser o meu refúgio, vai ser onde eu vou buscar forças para quando as não tiver, aguentar o peso da existência. É impossível deixar de ler todas as palavras escritas, porque ao ler aquelas palavras, eu sei, eu sinto, eu tenho a certeza que o caminho que escolhi, é o caminho certo. Só preciso de não ficar cansado o suficiente para fechar os olhos, só preciso de me relembrar constantemente disso e o mais difícil acho que já conquistei... o querer.

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