Wednesday, June 15, 2005

Paz

O meu conceito de paz tem sofrido alterações ao longo dos anos. Inicialmente a minha ideia de paz era ficar fechado no meu mundinho, protegido daqueles que me fizeram, queriam fazer ou poderiam fazer mal. Mas mesmo assim não conseguia manter essa paz, acabava por me sentir injustiçado, sentir raiva. Pensando bem, raros eram os momentos de paz nesses tempos.
Isso provocou uma doença que me foi corroendo com os tempos, até me colocar numa cama, incapacitado. Apesar de me negar a viver isso não me trouxe paz. Apenas fez com que ficasse mais vulnerável ao exterior. Ao me refugiar no meu interio fez com que me maravilhasse cada vez que tinha um contacto com o exterior. E quanto maior era a alegria de visualizar tal maravilha, maior era a desilusão. E diversas vezes me neguei a mim próprio para poder ver mais, para poder manter essas maravilhas por mais tempo. Essas ilusões foram me fragilizando cada vez mais até diversos pontos de ruptura.
Nessa altura desconhecia por completo o conceito de paz. Era uma perfeita miragem, não era palpável. Até que finalmente senti, vi e provei a paz. Mas estava debilitado por anos de refúgio, negação e deixei-me dominar pela frustração sempre que algo do presente pusesse em causa o futuro de paz que tinha idealizado. Amaldiçoei-me de não ter a capacidade de ter paz, amaldiçoei a minha má sorte de conjugar todos os factores que me impediam disso. Amaldiçoei a minha falta de forças para lutar contra o desfazer desse futuro. Mas com ajudas preciosas e com aquilo que aprendi com o meu guru, o sentimento de paz cresceu em mim, floresceu. E fez com que conseguisse ver as dificuldades com menos fatalismo, com menos dor. E menos negativismo de as coisas não se terem passado como eu idealizei.
Agora nesta altura em que supostamente teria perdido para sempre a hipótese de alcançar a paz, vejo que encontrei mais do que aquilo que pensava ter perdido. Vejo que ganhei a hipótese de ganhar a paz interior, não uma aparente, passageira e baseada em alguém. Ganhei a MINHA paz interior que eu preciso para viver e para transmitir aos outros que precisam mais que eu. É como andar de bicicleta, podemos estar 500 anos sem andar e podemos ter medo de quando começamos outra vez, mas depois de vencido o medo, facilmente nos lembramos daquilo que nos fizemos esquecer...eu soube e novamente eu sei.

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