Thursday, June 02, 2005

Interludium

Um pequeno intervalo no consjunto de textos que escrevi no meu "refúgio" algarvio. São 2 horas e 25 minutos da manhã e eu não consigo dormir. O mês de Maio foi o céu e o inferno e o de junho até agora teve só umas horas entre os dois, sendo as restantes pertencentes ao Inferno. É incrível como o ser humano nas horas difíceis procura pelo divino. Eu, como já disse, sou agnóstico (ou pelo menos uma espécie) e sinto-me ridículo a olhar para o ar e a perguntar "porquê?" Mas ninguém responde...
Eu sou uma pessoa complexa nos meus traumas, medos, sentimentos e acções mas também quem não o é? Nestes últimos tempos tenho tentado pensar no que é correcto a fazer, no que eu devo fazer, no melhor caminho e cheguei a várias conclusões (algumas ainda faltam apresentar nos restantes textos por publicar) e o mais engraçado é que as conclusões são contraditórias senão mesmo paradoxais. Vejamos alguns pensamentos:

- Opto por viver o presente e não pensar no futuro mas acabo por pensar no futuro e não viver o presente (diga-se de passagem também não tem muito por onde viver)
- Opto por levar até ao fim aquilo que sinto mas o que sinto não me trás energias suficientes para o levar até ao fim
- Tento não mergulhar na depressão por saber que isso não leva a lado nenhum mas continuo a usar o passado para me magoar
- Tenho ataques de auto-piedade maciça mas o resultado são ataques que faço a mim mesmo (por outras palavras, digo que sou um desgraçadinho e que não tenho culpa de nada mas depois torturo-me por me ter posto nesta situação)
- Penso que o positivismo é a única coisa que pode resolver esta situação mas depois abraço o negativismo
- Coloco a culpa de tudo isto em mim mesmo por erros passados que voltaram no presente para fazer justiça (o tão desejado Karma)
- Tento viver mas só penso em morrer

As conclusões que retiro disto são ainda mais engraçadas:

- Tenho que esquecer o passado e seguir em frente (quanto mais digo, menos faço)
- Tenho que ser fiel aquilo que sinto
- Tenho que pensar em mim mesmo
- Tenho que pensar nos outros porque assim vou-me sentir satisfeito comigo próprio

A verdadeira questão que eu acho que eu nunca me fui capaz de colocar a mim próprio foi o que fazer se eu estiver enganado. Eu tenho uma certeza enorme, gigantesca mesmo e essa certeza fez-me ser prepotente sem limites, como alguém mais iluminado do que eu, disse. Mas antes tinha muitas mais, antes tinha milhentas certezas e dessas todas só restou uma. O que fazer quando não tiver essa, agarrou-me a quê? Então tenho que preservá-la porque ela é unica coisa que tenho neste momento, é o meu pão, é a minha água, é a minha alegria e sobretudo a minha tristeza.
Faz-me pensar em que se calhar eu devo passar por isto tudo, por aquilo que fiz no passado, por aquilo que aconteceu. Mas eu espero que o sentimento não se transforme em ódio nem em rancor. Que isso não me leve a utilizar os truques mais baixos, sem respeitar ninguém. Que não faça sentir como senti que através de perguntas e contactos certeiros que estavam felizes por eu estar mal. O amor não tem limites...mas o que eu faço por ele tem e muitos. Segundo o iluminado, o amor não respeita compromissos nem relacionamentos. Será que o amor é isto? Algo que leva tudo á frente e todos sem avisar? Será que o amor é algo tão forte que chegue a ser negativo? Não. E não tinha o siginificado que tem se assim fosse. Talvez as pessoas não saibam o que é, se calhar nem querem saber. Eu também estou nesse lado do campo de vez em quando. Quando me deixo levar por outras emoções como o medo, a angústia, o desespero e o mais profundo dos egoísmos. Mas será que isso me leva a magoar a pessoa amada? Só se não a amasse.
Eu não sei qual é o caminho, ainda não sei e grito por ajuda por alguém me indique, mas ninguém responde...ninguém que eu ouça. Talvez eu precise da ajuda que estava a pensar em dispensar, talvez por causa disto fique lá mais uns 2 anos e meio, embora o facto de faltarem umas semanas para visitar o meu guru também não me ajude em nada, mas tenho que sobreviver sozinho. Sem muletas, tenho que tentar (e tenho tentado) e tenho que escolher um caminho. O caminho que segui agora, disseram-me hoje que era um sonho. De dragões, bruxas, princesas e príncipes. Talvez tenha sido um sonho e talvez eu tomasse esse sonho como o meu futuro. E por estar de tal maneira hipnotizado por ele não o vivi no presente. Eu sei, fiz merda e por isso não me posso queixar (karma mais uma vez). Agora queixo-me por não ter sonho, por ele ter sido guardado dentro de uma caixa junto com cartas por enviar. Se tivesse vivido o sonho em vez de ter ansiado por ele no futuro, talvez não tivesse acontecido nada disto. Talvez, talvez, talvez, se, se, se...
Talvez o meu erro seja escolher um caminho para o futuro. Se calhar tenho que escolher um caminho para o presente. Talvez eu possa saltar de caminho em caminho de dia para dia. E isto será válido apenas se não magoar ninguém. Tenho dois caminhos neste momento: da direita, o caminho em que continuo com aquilo que sinto, mais um dia e tento tirar disso o máximo partido para mim e para quem amo; da esquerda tenho o caminho em que corro, fujo o máximo que puder sem olhar para trás para fugir ao que sinto; no meio tenho um banco em que espero que me venham buscar (mais um dia de coma). Por hoje escolho o da direita, não sei se é o correcto mas é a minha escolha por hoje, amanhã será um outro dia e terei estes e mais caminhos possivelmente. Não me traz especial alívio, nem me traz a alegria da definição mas pelo menos é uma decisão e mesmo que seja por um dia, será a minha decisão. E irei decidir diariamente pelo menos com a esperança que esse caminho tomado e construído dia após dia me leve ao sítio que anseio, á caixa das cartas por enviar onde se encontra o meu sonho. Só espero ter força para a abrir, que isto tudo não passe de um grande e doloroso interlúdio...

São 4:28 e ainda não tenho sono, mas tou cansado, já é um começo...

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