A Maravilhosa Arte De Criar
Ontem estive a ver um documentário sobre a arte de stand-up comedy, mas não vou falar sobre ele porque é um assunto para uma outra posta num outro blog. Vou antes falar do que aprendi ao ver este documentário. Vou começar com um exemplo. Temos uma pessoa que gosta de pintar. Esta pessoa não é particularmente formada em artes, ela apenas gosta de pintar. Pinta por instinto, porque é o que sente. Certo dia, um amigo seu mostra algum do seu trabalho a uma pessoa ligado à indústria (esta palavra tem muitos sentidos em muitas áreas) que acha o seu trabalho refrescante, original e tudo o mais. Apadrinhado por esta pessoa, conhece o sucesso. O seu trabalho chega ao mundo e é reverenciado por tudo e por todos. Atrás do sucesso vem o dinheiro, os "amigos", as obrigações, as festas que tem que ir e as pessoas que tem que conhecer, falar e manter uma relação na maior parte das vezes, cínica. Aos poucos começa-se a fartar mas como se pode queixar? Está podre de rico e tudo o que tem é fruto da sua paixão por pintar. Mas no meio das festas, das reuniões, dos contratos, das entrevistas, essa paixão foi-se diluindo. A pressão para fazer algo que antes era espontâneo faz com que o resultado seja desastroso. E quando dá por isso, está perdido, não sabe quem é e sente-se miserável por não querer, não ter vontade de fazer aquilo que gostava de fazer.
Obviamente não estou a dizer que todas as pessoas ligadas à pintura passam por isto, até porque contam-se pelos dedos as pessoas que conseguem ficar podres de ricos ou sequer ter sucesso. Na pintura ou em qualquer outra área. Isto é para todos, todos os que sentem prazer em fazer algo e que por uma razão ou outra, já não retiram prazer disso como retiravam. Claro que todos os que constroiem algo, gostam de ter pessoas que admiram os seus trabalhos. Mas não é isso que o move para criar. Essa é apenas a recompensa. O sol não precisa de desculpa para brilhar, apenas brilha.
Existem aqueles que procuram apenas a recompensa, mas é uma maneira estúpida de arranjar amigos, não acham meninos e meninas?
Mas o que faz uma pessoa criar é uma necessidade de tirar algo dentro de si, seja através da escrita, pintura, música, escultura, artes, ciências, limpar retretes. É algo que se tem necessidade de fazer. E ao ter sucesso com o que se faz, por vezes, deixa-se que se dê mais importância. Pegando no exemplo do sol, é como se essa magia interior fosse o sol, sempre presente, sempre lá. Mas a Terra é apenas parcialmente banhada pela sua luz, criando assim a noite onde o sol não chega. Quando se quer criar há sempre uma altura ara isso e não somos nós que a escolhemos, tal como não se escolhe a noite e o dia. E quando se tem a necessidade de criar, esquecemos que por vezes é de noite e quere-se à força que o sol brilhe, mas o sol não brilha quando nós queremos. O sol apenas brilha.
Essa frustração faz com que se ponha em causa tudo e todos e até a si próprio. Chega a ser de dia e não haver sol porque tem tantas nuvens no céu que parece que é de noite. E nos sítios mais estranhos, nos locais mais inesperados e através das pessoas mais insuspeitas, surge a luz. Ao tomar contacto com outras pessoas que fazem aquilo que amam, parece que esse reencontro é imediato. É como se se tivesse a reter a respiração durante meses e ao respirar outra vez fosse uma sensação mista de alívio, dor e alegria. Não é pelo dinheiro, não é pelo reconhecimento, não é pelo estatuto social. É porque é. Simplesmente é. Não há razão, não há explicação. Apenas é. Façam o que sentem, isso vai-vos completar. Senão completar é porque não estão a ser puros, não estão a ser verdadeiros convosco próprios, é porque algo não está bem.
Como já disse atrás, existem pessoas cujos objectivos são as recompensas. Esta pessoas nunca estarão satisfeitas, porque o respeito não se pode comprar e a insatisfação é uma constante quando se quer agradar a todos.
Claro que precisamos de dinheiro para sobreviver, claro que temos que fazer coisas que não gostamos, é a sociedade, a vida e o mundo em que vivemos. E se pensarmos bem, se tivermos noção disto, estamos no estado mais primitivo que poderíamos estar enquanto seres humanos a viver em sociedade. Nós trabalhamos porque precisamos de comer e criamos porque precisamos de criar. E se tivermos sorte e trabalharmos arduamente para isso, talvez um dia possamos comer daquilo que criamos e termos a maravilhosa capacidade de não nos esquecermos que criamos porque precisamos de criar e não porque precisamos de comer...
PS: Estás a ver, querida amiga? Aquilo que falámos ontem? Eu tive que voltar atrás, tive que comprar aquele DVD e tive que o fazer mesmo sem saber porquê. Apenas senti que o tinha que o fazer. E vê no que ganhei em o ter feito... Basta sentir, o resto é pescoço ;)
1 Comments:
lol, não faço a minima ideia...:P
deve ser por causa do Sad But True
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