Wednesday, March 22, 2006

Dedo Na Ferida (Ou A Conversa Que Tu Não Queres Ter)

É difícil para ti tentar encontrar um consenso entre o que dizes e o que sentes não é? Tu cheiras tretas a quilómetros de distância mas parece que apenas as tuas tem licença para sobreviver. Tu odeias a hipocrisia mas proteges a tua como se duma filha bastarda se tratasse. Mantêns-a à distância de ti, não admitindo-a como tua própria e sim como algo que não tem lugar dentro do teu ser ou daquilo que tu és. Mas ela não te larga a consciência. Flashes de memórias e pensamentos perseguem-te, fazem-te interrogar do que se passou realmente. Da realidade das coisas. Se a tua memória é a certa ou apenas uma imagem irreal que optaste por criar para ser mais fácil conviver contigo próprio ou para teres legitimidade para fazeres certas coisas. Pois essa legitimidade acabou, porque a tua filha ilegítima voltou. E tirou-te o olhar da televisão que mostra as imagens falsas que foram criadas para te fazer acreditar em algo que não foi e não é aquilo que pensas. Tu procuras pela verdade mas por vezes é difícil admitir a verdade quando ela é feia. Quando ela mostra um “tu” que ninguém conhece. Um “tu” humano sem dúvida, mas que não queres ser. Que renegas. E voltas-te para a televisão. Mas desta vez, ela foi mais esperta que tu e escondeu a televisão.

E agora...?

Que vais fazer tu?

Que vais fazer quando para aonde queres que te volte, só a vejas a ela?

Não a queres ver e por isso fechas os olhos. Mas ela está dentro de ti, faz parte do teu ser. Então abres os olhos assustado. E ela continua à tua frente, a sorrir. Um sorrisozinho cabrão como de quem sabe de que acabou de ganhar.

E ela mostra-te aquilo que quizeste manter escondido ou aquilo que não querias crer que era como a verdade. E tu interrogas-te...

Será isto verdade...?

... Ou apenas mais uma mentira?

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