Sunday, May 22, 2005

Herói

Em certas alturas penso como mudei nestes últimos anos. Antes tinha uma percepção muito limitada do bem e do mal. Limitada não, ingénua. Via as coisas como preto e branco. Sim ou não. Até que descobri o talvez ou continuando de cores, aprendi o cinzento. E foi estranho porque não me ensinaram o cinzento, aprendi á minha custa. Na altura fiquei decepcionado comigo mesmo por não conseguir ser aquilo que queria ser. Depois de tantas situações passadas, a única coisa que me dava alento era o facto de sentir que estava certo, que era aquele o caminho. Mas depois de quebrar esse caminho, de fazer algo que me fizesse seguir desse caminho, fiquei desiludido comigo mesmo, fiquei vazio, porque sentia que depois de ter afastado todos em meu redor, que tinha agora me afastado a mim mesmo. O cinzento acho que existe para nos lembrarmos como somos humanos, como precisamos de querer atingir o branco ou preto mas que nem sempre podemos tê-los. Acho que me dizia a mim mesmo que devia evitar o cinzento para justificar a minha solidão. Que era esse o preço justo a pagar, sentir-me só porque este mundo não era para mim, por me sentir diferente. De ter certezas, de agir correctamente para com os outros. Podia estar só, mas pelo menos achava que estava certo. Até que conheci o cinzento e o vazio que veio com ele. O vazio mostrou-me a minha imperfeição e como eu me odiava a mim mesmo, por não conseguir cumprir aquilo que tinha me prometido, como eu passei a ter pavor da palavra decisão, de tomar um caminho que não o certo? E o que se decide quando não se sabe o caminho? Quando não se tem força para tomar essa decisão? Faz-me lembrar no Braveheart, no momento final antes de Wallace ser torturado, quando pede a Deus força para levar o que é certo até o fim, para dar significado á sua morte. Acho que todos temos momentos desses, menos cinematográficos claro, mas em uma altura na nossa vida pedimos força a algo superior a nós (ou que julgamos ser superior a nós) para tomar a atitude correcta, para fazer o que está certo. Por algo que valha a pena, liberdade, amor, fraternidade. Sempre tive sonhos de ser um mártir, de morrer por algo que valha a pena, de através dessa atitude mostrar a mim mesmo que afinal não sou assim tão mau. De ser capaz de passar por situações de sofrimento e que desse sofrimento resultasse um bem extraordinário.
Não sei, se calhar só quero por uma vez, uma só vez, na minha vida ser o meu próprio herói...

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